“O amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro 4:8).
Enquanto permaneci
sobre esta terra não passei de um fardo pesado para meus familiares. Desde a
adolescência rebelde, afeiçoei-me às sensações mundanas e aos prazeres fúteis
da juventude. Logo engravidei de meu primeiro filho mas, nem por isso,
emendei-me com dizia minha vozinha que me criara. Abandonei as
responsabilidades maternas a outrem, tal qual haviam feito comigo. O pai da
criança nem mesmo dignou-se a conhecê-la, descrendo de sua paternidade diante
de meu comportamento notoriamente promíscuo. Cedo conheci o mundo das drogas e,
na ânsia de sustentar o vício odiento, entreguei-me também a pequenos furtos e
roubos na comunidade em que vivia. Afundei até onde um ser humano poderia
fazê-lo, inibindo em mim mesma os sentimentos mais elevados os quais, se,
agasalhados em meu peito indócil, teriam-me poupado muitas desventuras e
angústias.
Outros filhos vieram
ao mundo em decorrência de minha prostituição à qual lancei mão para o sustento
do vício que me consumia visivelmente. Deixei-os, assim como ao primeiro, em
desamparo e, na falta de cuidados materiais, logo foram parar em abrigos de
assistência social. Minha pobre vozinha partiu antes de mim talvez por tristeza
cansada por minhas atitudes e conduta desregrada.
Quando fui parar na
cadeia, a primeira vez, já não tinha um lar a minha espera e pouco me importava
com minha própria sorte. Conheci lá dentro religiosos que, sobriamente vestidos
e bem calçados, vinham, de tempos em tempos, “pregar” o livro Santo na
tentativa de resgatar nossas almas por meio da confissão e do arrependimento
dos pecados. Entre idas e vindas do cadeião conheci uma pobre mulher que, como
eu, escolhera os caminhos errados. Presa, ainda grávida, veio a dar à luz a pobre e desamparada criança com
insuficiência respiratória em noite de forte tempestade. Desenganada pela
enfermeira plantonista foi deixada à própria sorte juntamente com sua genitora
por horas a fio à espera de socorro, que por razão do mau tempo tardou a
aparecer. Tocada pela cena derradeira e presa de forte sentimento que não sei
explicar velei noite a dentro mãe e filha, mantendo esta aquecida em meus
braços até seu último suspiro.
Anos mais tarde, ao desencarnar,
esquecida em uma cama imunda de pensão que, durante as noites transformava-se
em bordel, pensei que estavam a me procurar criaturas horripilantes e de
degradas por sensações as mais vis. Encontrava-me em escuro corredor tentando
fugir dos olhos tenebrosos que me espreitavam na sombra quando, de uma pequena
faixa luminosa surgiu um jovem de olhar doce e amável. Estendeu-me a mão sem
questionar meu passado ou minhas culpas. Apenas entrelaçou aos meus os seus
suaves dedos e conduziu-me para fora daquele pesadelo horrível. Era a criança
que eu, anos atrás, acalentara junto ao seio, talvez o único gesto sincero de
amor que tenha realizado em minha tormentosa existência. Apenas ele lá estava
para me conduzir à saída, apenas este gesto bastou para que eu merecesse a
misericórdia e hoje aqui estou, de passagem, para deixar com esta estória a
lição de que mesmo o mais acanhado gesto de amor pode determinar o futuro de
cada qual.
Assim me despeço, já em
prantos, aguardando nova chance nestas terras.
Aline , um espírito ansioso por
reparação.
Psicografia recebida em
Reunião de Psicografia em 14 dez 2011
Médium Ana
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