sexta-feira, 20 de maio de 2022

AS DORES DA ESCRAVIDÃO


                                          AS  DORES  DA  ESCRAVIDÃO

 
                 O sol brilhava no céu, um calor insuportável atingia a todos nós naquele terreiro, eu estava ali pendurado naquele tronco, as costas rasgadas pela força da chibata, todos ao redor, segundo o senhor precisavam ver pra servir de exemplo, choravam em silêncio, diante dos horrores que por vez ou outra eram obrigados a presenciar. 
                 Minhas costas ardiam, enormes feridas se abriam e eu sentia o sangue a jorrar por aquelas feridas, o sangue corria pela minha pele negra junto com suor. Me senti desfalecer, perdi os sentidos, aquele dia o castigo fora maior e eu o negro forte que era naquele momento não mais suportava, aquele seria o meu o meu último castigo...
                 Antes do momento final senti que mãos macias me acariciavam a cabeça e uma voz doce se fez ouvir me dizendo: feche os olhos meu filho, logo isso tudo será lembrança, pense em Jesus e venha comigo, assim fechei os meus olhos e como uma criança indefesa me entreguei, adormeci...
                 Acordei tempo depois em um lugar aconchegante, estava deitado numa cama, nunca havia deitado em cama, meu repouso era sempre no chão úmido daquela senzala, agora deitado naquela cama conseguia ver ali a minha volta irmãos que tão desventurados como eu haviam também sucumbido não resistindo mais as dores impostas pelos castigos desumanos que a nós eram aplicados.
                 Ali junto a mim cantavam as canções da nossa terra distantes sem serem castigados por isso, todos ali traziam o semblante calmo, a paz perecia invadir a cada um. Olhei mais atencioso e vi um par de olhos muito negros e brilhantes pousados em mim, as mãos postas em oração a Deus, dos olhos negros escorriam lágrimas. Sim era minha mãe, minha mãezinha.
                Minha mãezinha que havia de mim se separado ainda quando era criança, me lembrava da dor que ela sentiu, do desespero quando me levaram daquela fazenda, lembro-me dela chorando e implorando para que me deixassem ficar, parti dali e essa foi a última vez que vi minha mãe, nunca mais soube notícias dela.
                Agora a via ali a me olhar com os mesmos olhos de outrora, num repente consegui erguer meu corpo e estendi meus braços ansiosos pelo encontro, fui envolvido por ela em seus braços que tinha tanto amor, tanta saudade... Naquele momento sentimentos de amor represado em nossos corações veio à tona, quanto amor coube naquele abraço.
                O tempo de dor havia acabado, finalmente estava livre, o cativeiro ficara pra trás... Novos tempos se abriram para nós. Hoje depois de passar por outras encarnações me recordo dessa, da mais sofrida, mas a mais redentora, nela resgatei tantas faltas do passado, quantas mazelas deixei pra trás quando passei por aquelas dores.
               Me ajoelho em agradecimento a Deus, hoje sou feliz, busco me melhorar e ainda preciso muito, muito mesmo para me aprimorar.
               Bendito seja o amor de Deus que não deixa nenhum de seus filhos pra trás.
               Dia chegará em que todos nós conseguiremos ser a imagem de Jesus, e é só através do amor ao próximo que conseguiremos alcançar esse lugar.

   Negro Joaquim.

               Psicografia recebida em Reunião de Psicografia Maio de 2022.
              Médium: Débora S. C.