FELICIDADE NOS PRAZERES FÁCEIS
Tudo o que eu sinto é remorso, muito remorso, acho que
não sou digna de ajuda, estraguei a minha vida, fui um pote onde toda a sujeira
era depositada e com a minha permissão, como eu errei, não tenho perdão, tudo
se acabou pra mim, já não há esperança no meu coração.
Vou contar-lhes a minha historia, embora muito me
envergonhe, mas quem sabe um ser misericordioso poderá me auxiliar nesse momento.
Nasci num lar muito humilde, tudo nos faltava, passei
muita fome, muitas vezes vi choro de dor da minha mãe por não ter o que nos dar
de alimento. Vivi assim até os quatorze anos, nunca me conformei, queria ter
uma vida diferente, queria poder ter prazer de me alimentar, sentia muita fome.
Um dia tomei uma decisão, achei que eu não precisava passar
por aquilo tudo e naqueles dias fui amadurecendo uma ideia que me surgia como
solução, depois de muito pensar decidi que tudo mudaria a partir daquele dia.
Esperei que anoitecesse e me deitei como de costume no quarto com mais cinco
irmãos tão sofridos quanto eu, tão famintos e tão carentes do básico, quando o
silêncio reinava e percebi que meus pais dormiam e meus irmãos também, sai de
casa levando comigo além da roupa do corpo e de um chinelinho velho no pé, mais
uma muda de roupa.
Morava numa
pequena cidade, que prefiro não citar o nome, fui para a beira da estrada que
passava próxima a minha casa. Pedi carona e um caminhoneiro parou o caminhão me
levando com ele. Aquele homem quis indagar de mim onde eu pretendia ir e quantos
anos eu tinha. Menti nas duas respostas, disse que já tinha mais de dezoito
anos e que precisava visitar a minha vó que se encontrava doente. Não foi difícil
de fazer que ele acreditasse, eu era alta e o sofrimento pelo qual vivia me
amadureceu as maneiras, por isso ele acreditou, eu acho, se não acreditou me
levou assim mesmo.
Chegando à cidade grande comecei dar o meu jeito e
como já estava tudo bem planejado descobri com bastante facilidade onde eu
precisava chegar. Chequei naquela casa nutrindo esperanças de uma vida melhor, a
mulher me acolheu e logo eu já estava trabalhando. Ali permaneci por um tempo,
sendo muito explorada, trabalhava em troca de comida e era obrigada atender
homens de todo jeito.
Com o passar do
tempo consegui, num momento de invigilância daquela mulher, a sair dali e fui
procurar outra casa. Desta vez eu já era uma moça muito bonita e a alimentação
que eu agora recebia me fortaleceu. Fui aceita e lá minha vida começou a mudar,
os clientes eram homens finos, cheiravam bem e confesso que gostava daquele
lugar e daquela vida.
E assim fui levando, muitas vezes pensava no lar que
abandonara, da minha família, na dor que minha mãe deveria sentir, mas logo me
distraía como brilho da noite o torpor que o álcool me dava e com aqueles
homens.
Muitas vezes engravidei e cada vez que isso acontecia
eu tinha um problema, a dona da casa se irritava muito e logo providenciava uma
maneira de me livrar daquele problema, eu não hesitava e aceitava de bom grado
a ajuda oferecida.
O tempo passou depressa e eu já não era mais aquela
jovem linda, começaram a aparecer moças novas e em mim novas rugas, assim sendo
eu era facilmente substituída e não tinha mais clientes.
Sofri muito, e sem piedade fiquei doente, fui tomada
pela sífilis até morrer de forma miserável morando num cômodo fora da casa, um
lugar insalubre e cheio de ratos.
Retornei a Pátria espiritual e hoje me encontro assim,
uma figura horrível, deformada, corroída pela doença.
Vejo todos aqueles seres me xingando sem parar, eles
não me perdoam de os ter abortado e sei que sofro porque eu procurei, mas mesmo assim resolvi escrever
essa carta para alertar muitas moças que como eu não tiveram a força de
aguentar a vida que Deus determinou, trocando pela felicidade dos prazeres fáceis.
Ainda tenho esperanças mesmo com muita vergonha de que
Deus me ampare um dia.
Joana da Luz.
Psicografia recebida 2018.
Médium:Débora S C.