Abandono
O tempo passa ligeiro, ainda ontem eu
era um rapaz cheio de vida e no auge das minhas forças, trabalhei, me apaixonei
e constitui uma linda família, eram seis filhos; filhos esses que eu e minha
companheira criamos dentro das leis de Deus, freqüentando sempre as missas,
nunca nos descuidamos disso. Esses filhos tiveram uma infância feliz e com todo
o conforto de que a minha situação permitia, sempre amados e amparados em todos
as necessidades. Desses filhos, quatro se fizeram doutor e as minhas duas
meninas lindas se casaram com homens de situação financeira privilegiada.
Assim cada um tomou o seu rumo,
cada um saiu do meu lar, ou do nosso lar para ganharem a vida, por essa época
eu e minha companheira ainda não éramos tão velhos e fomos levando nossa vida
de sempre, com a permanente visita dos filhos e netos, meu lar era florido.
Como amei aquelas crianças, como minha companheira se deu aos netos e assim o
tempo foi passando e começamos a envelhecer de fato, continuávamos como sempre
na nossa vidinha, agora mais limitada pela idade, os netinhos cresceram e se
tornaram homens e mulheres e por essa época as visitas eram cada vez mais
esporádicas. Os filhos não mais tinham
tempo para nos visitar, tão preocupados em ganhar dinheiro, em ter fama, em ter
cada vez mais e mais, e conseguiram, ficaram ricos com grandes aquisições
financeiras.
As visitas nessa época quase nula,
eu e minha companheira telefonávamos, pedimos para que viessem em nossa casa,
que nos dessem notícias e nos contassem sobre suas vidas, mas a resposta ara
sempre que o tempo tava curto, que na próxima semana estariam conosco e assim
passava meses sem que eles aparecessem para nos visitar, essa atitude deles era
muito sofrida por minha companheira, ela sofria, sofria muitas vezes calada a
ausência dos filhos.
O tempo que não para nunca, passou
mais um pouco e minha amada companheira foi acometida por um mal súbito e
desencarnou, todos ficaram muito mobilizados com a morte da mãe e da avó, mas
mobilização não passou das celebrações fúnebres. Acabado o funeral, cada um
despediu-se de mim ali mesmo naquele cemitério, um se propôs a me levar para
casa, voltei sozinho ao meu lar e como
seria minha vida daquele momento em diante? Como seria minha vida sem a doce
companhia da companheira amada e de tantos anos de convívio? Entrei, orei a
Jesus pedindo-lhe forças.
Assim foi passando e cada vez eu ia
envelhecendo mais e mais e os filhos queridos perceberam que eu não mais
poderia continuar ali sozinho naquela casa, não tinha mais condições físicas de
cuidar de mim mesmo. Uma tarde de inverno me lembro que fazia muito frio, meus
filhos apareceram todos de uma só vez, pensei estar recebendo uma visita
preparada por eles para me felicitar o coração, mas... qual foi minha surpresa?
Me disseram que eu não poderia mais continuar vivendo ali naquela casa que foi
meu lar durante tantos anos, no lar que passei os momentos mais felizes da
minha vida, no lar que com sacrifício eu e minha companheira os criamos.
Entendi afinal minha situação física não era boa, iria com qualquer um dos seis
para a casa deles, bastava que decidissem, então querendo resolver logo a
situação perguntei para a casa de qual deles eu iria, eles se entreolharam e um
resolveu falar, falar o que eu nunca pensei ouvir em toda a minha vida, ele me
disse:
- Pai, todos nos trabalhamos e temos
nossos compromissos, levar o senhor para a casa de qualquer um de nós é coisa
impossível!
Então Deus meu para onde me levariam? Talvez
para a casa de algum neto? Não, a resposta veio clara e precisa: - Pai já
arrumamos uma vaga pro senhor num asilo, mas não se preocupe não é um asilo
comum, pagaremos muito caro para que o senhor tenha o máximo de conforto, é um lar idosos com
infra-estrutura para receber pessoas como o senhor, temos certeza que lá será
muito bem tratado, sem contar que nos faremos visitas semanais, estaremos
sempre juntos.
Fui para tal casa de idosos, realmente um
lugar muito bem arrumado e com muitos profissionais para auxiliar-me no que
fosse preciso. Era muito bem tratado. Semanas foram passando, depois meses, e
até anos, nunca recebia visita de nenhum deles, pagavam as despesas, mais não
faziam o que eu mais precisava, que era um pouco de amor e de atenção.
Passava horas imaginando o porquê
de tanta ausência, muitas e muitas vezes pedi aos funcionários do lar para que
ligassem para meus filhos dizendo que eu precisava deles, a resposta dos
funcionários eram sempre as mesmas, “disseram que semana que vem estarão aqui”
e de novo passava uma, duas, três, cinco, dez semanas e nada. Fui cada vez
ficando sem esperança, sentia que o meu tempo já se esgotava, desisti enfim de
procurar meus filhos, mas esquecê-los nunca, eles estavam sempre na minha
memória e eu pensava: - Deus o que fiz
com esses filhos que criei com tanto amor, e que hoje me ignoram.
Desencarnei, reencontrei minha
companheira querida e fiquei sabendo que nem enterrar meu corpo eles foram,
pagaram todas as contas da casa de idosos e se sentiram muito felizes por terem
feito a sua parte a te o fim, dando ao pai o maior conforto possível. Será?
Me pergunto, onde andavam quando eu
precisava só da presença deles, só de um carinho, uma atenção, uma visita. Hoje
daqui fico muito infeliz de ver o que foi preparado para o futuro de cada um.
Peço a Deus que eles não passem por que passei, pelo sofrimento que me
causaram, a muito já lhes perdoei e eles nunca se pediram perdão afinal fizeram
a sua parte!!
Um espírito que
sofreu na carne as dores do abandono, a tristeza de envelhecer sozinho, o
desprezo dos filhos.
Pensem nisso!!!!
Muita paz.
Psicografada na Reunião
Mediúnica no dia 05/06/2013
Médium D S C
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