domingo, 3 de agosto de 2025

O CÃO, O MENINO E O MEU CAJADO


 O CÃO, O MENINO E O MEU CAJADO   

        Faz tanto tempo,,, Tanto tempo já faz que estive nesse cadinho de meu Deus! Caminhava devagar, passo trôpego, cambaleante, sem ninguém a meu lado . Um cajado e um cão eram meus companheiros.
Eu já era sexagenário e me sentia doente. Mas isso não me incomodava muito... Andei, andei e avistei um casebre pequeno. Alguém lá dentro gemia de does muito fortes. Eu me aproximei, era uma moça, garota ainda que sofria as dores de um parto.
        Eu entrei, ela me olhou e pedia ajuda com os olhos. senti-me muito envolvido nisso. E a criança estava prestes a nascer. Olhei a moça e a examinei de relance. Podia ser minha neta, ela desfalecia.
        Eu tinha que fazer alguma coisa. Lá fora o meu cão fareja e estava aflito. Senti que a situação era urgente. Eu teria que agir. Fui a cozinha, se é que aquilo era uma cozinha. Peguei uma caneca d'agua e pus uma gota na boca daquela moça. Ela me agradeceu com os olhos. Parecia pedir socorro . Eu tinha que fazer algo. Senti uma força irresistível, deitei-me sobre o abdômen daquela moça, pressionei a criança e ela nasceu. Era um menino robusto, que chorava alto.
        Quando olhei para a moça ela tinha desfalecido, ou melhor ela se fora, ela morreu. O que fazer meu Deus?
        Aguardei que alguém chegasse. Ninguém chegou, velei durante a noite. Arrumei o corpo na cama e fiquei sem saber o que fazer. Quando amanheceu ouvi passos. Era um homem, muito abrutalhado e bravo. Que aconteceu? Que faz aí seu velho? Eu contei a ele, apresentei o corpo da moça e a criança que estava faminta.
        Ele me olhou e disse que "aquilo" que aconteceu, estava bom para ele, mas que a criança que era seu filho o impediria de muita coisa, pois ele era casado, possuía família e ia "descartar" aquele fardo maldito.
        Eu fiquei abobalhado, nada disse. Ele faz um brusco, abriu o alforje e disse: Vou enterrar essa bastarda. Leve o filho dela consigo. Vou te dar alguma coisa. Pegue essa criança e suma.
        E foi o que eu fiz.
        A partir daquele dia tive mais uma companhia: o cão, o menino e o cajado.
        Ainda vivi muito errante, mas dignamente. Quando morri meu filho(assim o considerei) estava com quinze par dezesseis anos. Eu o amei e ele me amou.
        Meu cão já havia morrido, mas fui amparado pelo meu filho, que hoje já deve ser um homem, talvez até avô. Eu continuo a amá-lo e sei que ele também me ama e honrar minha memória.
        As coisas acontecem sempre para nosso bem.
        Agradeço a oportunidade.

        Quinquim (Joaquim).

        Psicografia recebida em 2025.
        Médium: Catarina.