MÉDICO OU COMERCIANTE DA SAÚDE?
Passei grande parte da minha última encarnação vivendo em uma grande cidade. Como em todos grandes centros ali tinha gente de todo jeito, ricos, milionários, pobres, paupérrimo e os que não tinham nem onde morar.
Vi de tudo, na minha condição de médico do serviço público, recebia doentes de classes financeiras muito prejudicadas, esses doentes eram tratados tão somente naquele ambulatório do serviço público. No meu consultório particular atendia as abastadas. Assim sendo não fiquei sem saber o que uma pessoa sem recurso sofre com a falta de oportunidades, mesmo a mais básica que é ter saúde, de ser tratado com dignidade.
Nesse ambulatório os doentes eram atendidos por mim de maneira fria, muitas vezes não permitia nem mesmo que o doente assentasse numa cadeira para relatar o problema. Quantas vezes eu mal olhei para essas pessoas, não perdia meu tempo em fazer uma consulta minuciosa para que pudesse dar um diagnóstico certo. Receitava algo que pudesse amenizar a dor, e nada mais tratava-os com muito descaso.
No meu consultório particular o assunto era outro, me detinha aos mínimos detalhes e usava de todo o meu conhecimento para ser preciso no diagnóstico.
Quando penso nisso me sinto o pior dos seres, não fui um médico, fui um comerciante da saúde. Desperdicei o maior beneficio que poderia obter da medicina que era ajudar amenizar a dor e sofrimento de todos, não só a dor dos que podiam pagar, os que com seu dinheiro mantinham o meu conforto, mas também dos pobres que eu recebia através do governo, porque esses não eram atendidos por favor, eu recebia para isso.
Atender alguém que não pudesse pagar? Jamais. Recordo do filho pequeno de uma mulher que trabalhava em minha casa estar doente, e eu estando tão próximo daquela família nada fiz para ajudar, mandei que a mãe o levasse no tal ambulatório e ali friamente atendi aquela criança. Hoje agradeço por não ter sido um caso grave senão meu remorso seria ainda maior.
Fico pensando a quantos humilhei com minha arrogância, quantos maltratei com meu pouco caso e indiferença.
O tempo passou, eu tive uma vida confortável e feliz... Até que regressei e aí pude ver tudo o que eu fiz e tudo que eu poderia ter feito. Vivi feliz na carne, mas do que adiantou se hoje aqui sofro com esse remorso que me corrói a alma.
Quantos encontrei aqui que viviam tão pobremente e hoje eu que era o Doutor sou o mais pobre dos homens.
Agradeço a Deus por ter conseguido entender tudo que eu fiz de errado e agradeço mais ainda pela oportunidade que eu sei que terei em reparar todo esse mal, em poder ter a chance de uma outra existência e poder ter oportunidade de ser uma pessoa melhor.
Obrigado Jesus por me mostrar meus erros e me fazer aprender através da dor.
Hoje sigo em busca de paz, paz que só terei quando puder olhar meu próximo com carinho, atenção e amor, sem pensar quanto esse próximo tem e não o que ele é.
Orem por mim.
Meu nome? De que interessa!
Chamo-me egoísta.
Psicografia Republicação em 2021.
Médium: Débora.
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