sexta-feira, 31 de agosto de 2018



MATEI-ME, MAS NÃO MORRI

         Certamente todos que ouvirem minha narrativa vão me censurar, me acusar.
         Não sem que eu me justifique.
      Já não tinha nada a perder, pois já tinha perdido tudo, até minha dignidade. Nenhum homem suporta o peso de uma censura, de uma acusação. Apesar de ninguém dizer uma palavra sequer, minha consciência me acusava. Eu não pude resistir. Pensei em desertar, pensei em sumir, mas não ia adiantar, pois iam me encontrar.
       O céu para mim não era mais azul como na minha adolescência, nem os dias claros de minha infância.
       Tudo parecia nublado em minha mente, não havia solução. E então resolvi desfechar o golpe derradeiro: “acabar comigo mesmo, me matar”.
          E eu o fiz com uma frieza e uma decisão tão firme, que hoje eu não sei como tive coragem.
         Eu não suportava a ideia de matar um animal sequer, nem que fosse para matar a fome. Mas me matei.
         Vivia muito calado e acabrunhado. Aquela ideia não saia da minha mente, e mesmo depois de morto queria acabar comigo, mas não acabava. Porque na realidade eu me matei, mas me sentia vivo. Tinha ódio de mim mesmo. Porque viver? Mas vivia. Era um sofrimento atroz porque os ferimentos doíam, e como doíam. Sangravam e sangravam. Minha cabeça era como um trovão, e um relâmpago passava em minha visão.
         O que fiz meu Deus? Eu não sabia mais de nada... Será que fiquei doido? Hoje sei que sim, pois em sã consciência jamais alguém faria o que fiz. Mas acontece que me sentia realmente vivo e sofria porque eu não morrera.
        Vaquei, andei, gritei, tampei os ouvidos, mas não conseguia estancar o sangue que saia da minha cabeça.
         Venham me ajudar! Gritei um dia, depois de muito sofrimento.
        E uma pessoa, simples, na capa de um mendigo se aproximou e com a beira de sua veste rasgada me enrolou e me carregou.  Me levou à sua choupana e disse:
 “Vou te ajudar, porque você fez essa ação inconsequente levado por irmãos ignorantes e desejosos de sua queda. Você não foi bastante forte para resistir à influência deles. Vou deixar você aqui e pedir socorro a irmãos maiores, porque é a única coisa que posso fazer no momento. Beba um pouco d’água e durma.”.
         E dormi. Quanto tempo? Não sei.
       Acordei muito depois em um lugar amplo, numa maca sendo conduzido por enfermeiros atenciosos, que já haviam feito um curativo em minha cabeça e me levaram a um hospital, “hospital público”, mas muito limpo, porém onde ficavam pessoas que como eu atentaram contra a vida, mas em vias da recuperação.
      Coisas muito tristes, que não quero e não posso narrar. Mas foi lá que encontrei a paz. Estou assistindo filmes de valorização da vida, que me fazem ir às lágrimas, e que me dão a vontade de voltar atrás para recuperar o tempo que perdi.
    Vou ser transportado para outro lugar onde poderei ser útil, mas só quando estiver totalmente recuperado.
        
        José da Silva Filho.
                                                                      
       Psicografia recebida em 2018.                                     
       Médium: Catarina.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018


EU QUERO UM JARDIM


Quero ficar num lugar calmo, sem gritos e lamentações. Quero ver um lindo jardim com crianças brincando, senhoras colhendo flores, quero ver árvores gigantescas com frutas e flores. Não quero ficar onde estou, aqui é frio, escuro e tem muito choro.
Eu pensei que quando morresse iria para um paraíso, com direito ao descanso eterno. Como fui tolo em acreditar em lugar de tamanha beleza e encantamento. Deixei-me ser conduzido a um ideal onde só encontrei dores e ranger de dentes.
Fui trazido até aqui por tanto pedir misericórdia e perdão, tirei minha vida por um capricho banal e fútil, sou muito descrente de Deus, não acreditava que uma simples oração fosse me ajudar em meus problemas íntimos.
Sempre quis uma vida fácil, sem trabalho, mas gostava de ter coisas lindas, roupas, perfumes, sapatos e cobrava de minha mãe. Cheguei a dizer coisas horríveis para ela e minha mãe era uma guerreira que trabalhava como cozinheira em uma grande casa, com pessoas de grandes posses e muito ricas.
Minha mãe sempre trazia roupas doadas para mim, eu aceitava, mas não me convencia de que eram roupas usadas que queria usar. Eu queria mais e mais. Até que um dia resolvi trabalhar nesta mesma casa como ajudante do jardim, uma profissão pequena e sem importância. Fazia o que tinha que ser feito, mas sem nenhum interesse de minha parte em fazer o meu melhor.
Um dia uma linda moça veio até o meu encontro e perguntou: “Você Gabriel é um rapaz muito bonito e tem mãos boas para cuidar de meu jardim, vejo que as mudas que plantou semana passada estão fortes e querendo desabrochar para nos encantar com sua beleza e cor. Tenho uma pequena propriedade em lugar um pouco distante daqui, onde gostaria que você cuidasse para mim, você aceitaria?”. Pensei em não aceitar, sair de minha casa para viajar todos os dias e ainda cuidar de jardins? Não sei, gostaria de pensar um pouco mais e darei a resposta amanhã, você se importa? Perguntei.
Passaram uns dias ela veio ao meu encontro e eu aceitei ir morar em sua pequena propriedade. Esses dias em que fiquei pensando, comecei a desejar a pequena propriedade, comecei a ver uma possibilidade de ficar com essa linda e inocente dama, minha mente não parava de pensar até que cheguei finalmente a me casar com a pequena dama.
Fui um homem cruel e fiz tanta maldade que ela ficou louca e se suicidou, eu fiquei com toda a sua fortuna, mas enlouqueci, não encontrei a minha paz, fui ficando cada dia mais triste e por onde eu ia conseguia vê-la com seu sorriso, gentileza e o seu olhar meigo para mim, eu conseguia sentir o seu amor e  a sua confiança que ela tinha por mim. Não tive como viver mais naquele lugar e fui para cidade.
Na cidade logo encontrei um vicio, onde me deixava um pouco mais calmo, que era a bebida. Até que um dia fui encontrado em lugar escuro e sombrio, e hoje me encontro aqui em busca de um lugar lindo, onde eu possa plantar uma nova história de vida que possa florir lindas rosas vermelhas como os lábios de minha amada Julieta.
Eu amava a minha pequena dama, não tinha conhecimento desse sentimento, só depois da morte que fui capaz de reconhecer.
Sinto muito...

Gabriel Lima.        
                                                             
Psicografia recebida em 2018.
             Médium: M. Nicodemos

sexta-feira, 17 de agosto de 2018


MÃOS VAZIAS

Através dessas linhas que hora escrevo pretendo contar-lhes um pouco das duas últimas encarnações.
Começo então pela penúltima, eram os anos de 1800, por essa época nascia em uma grande fazenda de café, no interior do Brasil, cheia de vida e saúde dava meu primeiro suspiro de retorno à carne. Tinha tudo pra ter sido útil e feliz, mas me entreguei a inutilidade e a proporcionar a infelicidade daqueles pobres negros que viviam nas senzalas insalubres das fazendas do meu pai.
Não sei porque tinha tanto ódio meu coração tão jovem, me comprazia em ver aqueles pobres negros sofrer, era como se a dor deles me desse enorme prazer, minha crueldade era tanta que sentia prazer em ver aquelas costas serem rasgadas pela chibata do feitor, homem  rude e de maus modos.
Passei por essa encarnação só prá ser servido e fazer o mal, não consigo me lembrar de uma única vez que tenha sido boa à alguém, uma única vez que tenha feito alguém feliz. Casei com homem igual ou pior que a mim mesma, casamento arranjado, nunca conheci amor, nunca amei, nem mesmo ao meu único filho. Nunca consegui amar aquele ser, logo após o nascimento já foi entregue as muitas amas que ali viviam, jamais tive para com ele o menor gesto de carinho, nunca o aconcheguei em meu regaço, jamais lhe ofereci o alimento que jorrava dos meus seios. Ele foi crescendo e se tornando um lindo rapaz, mas para mim não fazia diferença, como fui má. Não cativei nem o amor do meu filho que por isso nunca me amou como se ama a uma mãe, era-me completamente indiferente.
   Os anos passaram, não cheguei a envelhecer, uma enfermidade me levou de volta à Pátria Espiritual, lá cheguei com as mãos vazias, vazias de tudo. Voltei carregando comigo o ódio daqueles pobres negros que muito comemoraram a minha morte.
Mais uma vez o tempo passou, muito sofri e muito aprendi, novamente chegou a hora de novo mergulho na carne, pensava em ser pelo menos um pouco melhor dessa vez.
Volto então a minha última encarnação. Não nasci em família muito abastada, mas com condições suficiente para que nada me faltasse, teria aí chances de através do meu esforço conseguir vencer financeiramente e moralmente, da mesma forma que me foi dada condição de ter escola, tive em casa na escola do lar mãe amorosa que ensinou a amar a Deus, ser caridosa e fazer o bem. Ela tentou, eu infelizmente não aprendi.
Era inteligente e logo me destaquei nos estudos, me formei, tive uma profissão e me casei com homem de posição, era bela, inteligente, interessante, tinha dinheiro e recebi ensinamentos, enfim tudo para viver bem e fazer o bem. O que fiz? Mais uma vez tudo errado.
Menosprezava os que tinham condições inferior a minha, não gostava de me misturar com empregados, jamais pratiquei a caridade, achava que a tudo e todos se comprava com o dinheiro. Dessa vez aprendi a amar, mas só os meus, queria ver meus filhos bem, o resto não me importava. Nunca pensei em ajudar a ninguém, achava que quem não conseguia sucesso financeiro era porque não tinha coragem, a todos julgava, achava que se não conseguiam é porque eram preguiçosos, porque faltava-lhes coragem, nunca pensei que pudesse ser por falta de oportunidades.
Pensava na minha aparência, nunca me conformei com o fato de estar envelhecendo, cada ruga que marcava meu rosto representava enorme tristeza para minha alma extremamente fútil. Outra vez ele, o tempo, passou e eu idosa, demente regressei à Pátria Espiritual. Mais uma vez retornei de mãos vazias!
Meu Deus aqui estou à tantas décadas, tanto tenho aprendido, e tanto medo sinto, vejo que em breve devo estar sendo chamada a nova experiência na carne, o que fazer? Preciso dessa oportunidade, não posso mais falhar, sei que a natureza não dá saltos, mas preciso dar um salto na minha triste existência, não posso mais voltar de mãos vazias.
Quanta vergonha e medo sinto quando olho minhas mãos, vergonha do que não fiz e muito medo do que vou fazer, mas uma coisa eu tenho certeza, não quero, não devo e não posso mais trazer as mãos vazias.

Meu nome? Prefiro não dizer!
Mãos vazias.
               
Psicografia recebida 2018.

            Médium:Débora S C.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018


O CÂNCER ME CONSUMIU


          Jesus sofreu, eu também sofri. Estava consternado com meu sofrimento. O câncer corroia-me não só meu corpo físico, mas também minha alma. Eu ainda me considerava tão jovem para morrer...
         E como sofri, cada sessão de quimioterapia e radioterapia eu ia ciente que melhoria, mas qual o que? Eu só piorava. Tinha dias que eu sentia uma pequena melhora, mas depois tudo voltava ao início.
         Meus familiares cercaram-me de carinho e dedicação. Foi uma dádiva. Até aqueles que eu achava que não me tinham muita consideração, se cercaram de mim. Faziam-me vistas tanto em casa como no hospital.
         Devo nesse momento fazer um agradecimento a meus médicos e aos enfermeiros que cuidavam de mim com tanta dedicação.
         À proporção que meu corpo se tornava debilitado, minha alma se rebustecia. Nos meus sonhos eu estava sadio. Sentia-me jovem e forte como nos velhos tempos. Mas ao acordar eu sentia as dores e a aflição.
         Meu corpo já não correspondia aos meus desejos simples de ao menos me assentar na cama. Tinha que ser ajudado. Já não podia fazer quase nada.
         Um dia vi aproximar-se de mim muitos irmãos que eu pensei serem evangélicos. Muitos felizes, falantes. O mais idoso, que achei ser o pastor se aproximou de mim e disse: “Chegou a hora, vamos liberta-te e levar-te para um lugar onde vais ser curado de teus sofrimentos. Ajuda-nos com seus bons pensamentos, pois irá torna-te mais leve. Vamos meu irmão.”    
          Eu quero despedir dos meus, da minha filha, de meus netos, dá-me essa oportunidade, respondi.
          E eles disseram: “Sim despeça.”
           E em espírito beijei a cada um deles. Eles não estavam presentes e eu não sei como percorri a distância que nos separava. Beijei-os, agradeci-os. E me fui, levado por aqueles irmãos que de uma forma desconhecida me auxiliavam apenas com as mãos.
          Só sei que fui “transportado” a uma distância incalculável. Fui ficar em lugar de muita paz. Um hospital que tinha jardins que exalavam perfumes de flores que eu desconhecia também.
           Hoje após esse tempo, sinto-me recuperado. Já posso, de meu lado, auxiliar aos que como eu padecem de câncer.
          Eu hoje agradeço a Deus a oportunidade de estar aqui nesta reunião, participando ativamente e deixando o meu testemunho de que a “morte não existe”. A felicidade é conquista nossa.
          Obrigado irmãos, muito obrigado.

           Anselmo.
              
            Psicografia recebida em 2018.                                     

            Médium: Catarina.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018



A PEQUENA GUERREIRA

Num momento tão lindo de minha vida eu fui comunicada através de médicos que minha filha tinha uma grave doença pulmonar. Eu com minha fé fui atrás de tratamentos com os melhores médicos. Tentei passar para minha pequena confiança e coragem, mas no fundo do meu coração estava descrente e sem animo para cuidar e já estava sem esperança de cura.
 Vi minha pequena emagrecer, cair os cabelos e ela com sua inocência e acredito que Deus protege intensamente as crianças, pois para ela parecia tão simples, tudo que se passava somente ouvia dela um leve choro quando os medicamentos eram venosos e como toda criança quando vê uma agulha se espanta e chora, mas ela tinha um olhar que dizia: “Tenha calma mamãe, não sofra tanto assim!”. Crente chego a ver esse olhar neste momento e quantas saudades tenho de minha pequena.
Eu sentia que ela sabia da gravidade de sua enfermidade, mas sempre mantinha a calma e com um sorriso no canto da boca dizia: “Vamos curti este momento mamãe!”.
Mas infelizmente o meu sofrimento passou a ser maior que o dela. Fui levada pela tristeza, fui totalmente covarde diante do sofrimento de minha pequena. Vi que estava doente também, num momento em que eu deveria estar forte, mostrando fé, esperança e confiança nos médicos, acabei sendo totalmente engolida pela depressão.
 Meu estado de saúde se agravou. Fui colocada em hospital psiquiátrico e minha família ficou responsável pela minha pequena. Muitas vezes fui vê-la no hospital sempre acompanhada por um enfermeiro ou médico, eu quando olhava para ela podia sentir e seu olhar o que ela queria dizer: “Mamãe tenha confiança e coragem!”, minha pequena era guerreira.
Num momento tão triste não pude cuidar de minha filha. Seu pai, um homem bom, jamais deixou de ajudar, sempre que possível estava presente, pois ele precisava trabalhar para pagar as despesas de hospitais e medicamentos.
Minha pequena faleceu em 2007, numa tarde de sol, o céu estava azul, na clínica onde eu estava os pássaros cantavam alegremente, senti a sua partida, fiquei calma e não sei explicar o que aconteceu comigo, mas eu vi o seu olhar e ele me dizia algo assim: “Mamãe estou bem, aqui não vai haver mais sofrimento, não sofra com a minha partida, estou bem, existe luz onde eu estou indo”.
Eu fiquei calma, minha doença não se agravou, mas não sai da clínica, fiquei hospitalizada até o dia do meu desencarne no ano de 2010. Nunca lamentei o falecimento da minha pequena, jamais culpei Deus por isso, mas eu me culpo e trago aqui na minha alma a tristeza e sei que deixei infeliz o meu Pai que está no céu. Ele me confiou uma pequena e eu com a minha pequenez não fui capaz de cuidar devidamente como uma mãe forte que devem ser todas as mamães.
Hoje me encontro em recuperação em uma casa acolhedora e sei que o meu encontro com a minha pequena depende exclusivamente de mim.
Tenho certeza que vou conseguir através da minha confiança e coragem e com a ajuda de toda essa equipe sinto que em breve estará em meus braços a minha pequena guerreira Gabriela.

E eu Luciana, uma mãe que aprendeu muito com sua pequena a ser guerreira, agradeço ao Pai por tudo.
  
                                                            
Psicografia recebida em 2018.
             Médium: M. Nicodemos