sexta-feira, 27 de setembro de 2013


“O amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro 4:8).


                         Enquanto permaneci sobre esta terra não passei de um fardo pesado para meus familiares. Desde a adolescência rebelde, afeiçoei-me às sensações mundanas e aos prazeres fúteis da juventude. Logo engravidei de meu primeiro filho mas, nem por isso, emendei-me com dizia minha vozinha que me criara. Abandonei as responsabilidades maternas a outrem, tal qual haviam feito comigo. O pai da criança nem mesmo dignou-se a conhecê-la, descrendo de sua paternidade diante de meu comportamento notoriamente promíscuo. Cedo conheci o mundo das drogas e, na ânsia de sustentar o vício odiento, entreguei-me também a pequenos furtos e roubos na comunidade em que vivia. Afundei até onde um ser humano poderia fazê-lo, inibindo em mim mesma os sentimentos mais elevados os quais, se, agasalhados em meu peito indócil, teriam-me poupado muitas desventuras e angústias.
                         Outros filhos vieram ao mundo em decorrência de minha prostituição à qual lancei mão para o sustento do vício que me consumia visivelmente. Deixei-os, assim como ao primeiro, em desamparo e, na falta de cuidados materiais, logo foram parar em abrigos de assistência social. Minha pobre vozinha partiu antes de mim talvez por tristeza cansada por minhas atitudes e conduta desregrada.
                         Quando fui parar na cadeia, a primeira vez, já não tinha um lar a minha espera e pouco me importava com minha própria sorte. Conheci lá dentro religiosos que, sobriamente vestidos e bem calçados, vinham, de tempos em tempos, “pregar” o livro Santo na tentativa de resgatar nossas almas por meio da confissão e do arrependimento dos pecados. Entre idas e vindas do cadeião conheci uma pobre mulher que, como eu, escolhera os caminhos errados. Presa, ainda grávida, veio a dar  à luz a pobre e desamparada criança com insuficiência respiratória em noite de forte tempestade. Desenganada pela enfermeira plantonista foi deixada à própria sorte juntamente com sua genitora por horas a fio à espera de socorro, que por razão do mau tempo tardou a aparecer. Tocada pela cena derradeira e presa de forte sentimento que não sei explicar velei noite a dentro mãe e filha, mantendo esta aquecida em meus braços até seu último suspiro.
                         Anos mais tarde, ao desencarnar, esquecida em uma cama imunda de pensão que, durante as noites transformava-se em bordel, pensei que estavam a me procurar criaturas horripilantes e de degradas por sensações as mais vis. Encontrava-me em escuro corredor tentando fugir dos olhos tenebrosos que me espreitavam na sombra quando, de uma pequena faixa luminosa surgiu um jovem de olhar doce e amável. Estendeu-me a mão sem questionar meu passado ou minhas culpas. Apenas entrelaçou aos meus os seus suaves dedos e conduziu-me para fora daquele pesadelo horrível. Era a criança que eu, anos atrás, acalentara junto ao seio, talvez o único gesto sincero de amor que tenha realizado em minha tormentosa existência. Apenas ele lá estava para me conduzir à saída, apenas este gesto bastou para que eu merecesse a misericórdia e hoje aqui estou, de passagem, para deixar com esta estória a lição de que mesmo o mais acanhado gesto de amor pode determinar o futuro de cada qual.
                        Assim me despeço, já em prantos, aguardando nova chance nestas terras.
  
                                                Aline ,  um espírito ansioso por reparação. 

                                  Psicografia recebida em Reunião de Psicografia em 14 dez 2011

                                                                                                   Médium Ana 

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